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  • Foto do escritorNael Rosa

Negra e mulher, professora fala como foi ter sido a Patronesse da Semana Farroupilha de Piratini

Foto: Elis Garcia

Professora, ativista na luta contra o racismo, foi homenageada pela Prefeitura

Depois de 12 dias de eventos, a Semana Farroupilha de Piratini terminou na data máxima do gaúcho, o 20 de Setembro, e, entre tantas homenagens realizadas durante os festejos, restou também a satisfação de uma mulher negra, escolhida pela Secretaria de Cultura e Turismo, como a Patronesse de todas as atividades relacionadas ao tradicionalismo na Capital Farroupilha.


Eva Dutra Pinheiro tem 69 anos, é professora aposentada e ativista na luta contra o racismo, e garante que sentiu na pele as diferenças impostas pela sociedade no tocante a participação dos negros na cultura do Rio Grande do Sul, já que seu pai, Osvaldo Pinheiro, fez parte da comissão que, em busca de espaço, fundou o CTG Negrinho do Pastoreio, uma saída para todos aqueles que, segundo ela, em virtude de sua cor, não tinham sua entrada permitida naquele que até então era o único Centro de Tradições Gaúchas da cidade.


“Fiquei surpresa e feliz com essa homenagem, pois por muito tempo nós negros não éramos vistos como gaúchos, tanto que no 20 de Setembro CTG, invernadas que tinham componentes negros eram proibidas de se apresentar, já que os patrões barravam a nossa entrada, por isso antepassados da nossa raça acabaram por fundar o Negrinho para que tivéssemos mais espaço”, conta a professora.


Ela disse que lhe causou grande satisfação estar no Palco do Rio Grande na cerimônia de abertura como homenageada, pois o ginásio onde ocorreu grande parte dos shows estava lotado, o que lhe permitiu sentir acolhida por todos. “Foi muito interessante essa acolhida por parte das minhas amigas, colegas de trabalho e todos que ali estavam. Causou-me uma grande surpresa”.


Para Eva, ter participado de eventos como este serve para quebrar paradigmas com relação a sua raça, já que é preciso lembrar que os Lanceiros Negros, homens que compuseram as linhas de frente nos combates da revolução que teve início em 1835, não morreram lutando como seria o normal, e sim, assassinados por aqueles a quem serviram.


“Não foi dada a devida importância a minha raça, pois está muito claro que os negros que lutaram na Revolução Farroupilha foram traídos e mortos depois de servir, o que ficou escondido por muito tempo. Até hoje nós sentimos essa superioridade branca, que é cultural, e, um exemplo disso, é que nas fazendas os negrões são os peões que servem aos patrões brancos, portanto o racismo está enraizado e ainda hoje sentimos a diferença do branco para o preto até mesmo em um olhar ao frequentarmos determinados espaços aos quais parece que não somos merecedores. Então ter recebido a honra de ser a Patronesse da Semana Farroupilha de Piratini, contribui, na minha opinião, para acabar com a superioridade de uma raça sobre a outra”, arremata.


Reportagem: Nael Rosa


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