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Foto do escritorNael Rosa

"Vou buscar a Justiça para que todos os responsáveis pela morte dele sejam punidos", afirma mãe de Kerlon

Foto: reprodução Facebook

Adriana afirma que, entre as boas memórias que tem do filho, está a maneira carinhosa e amorosa com que ele a tratava

 “Eu sempre disse aos meus três filhos que, para salvá-los, eu era capaz de morrer.  Não pude fazer isso, acabaram tirando um pedaço de mim e hoje minha dor é imensa”.


As frases acima e que demonstram o intenso sofrimento de uma mãe, são apenas duas das várias  ditas por Adriana Oliveira da Silva, 46 anos, durante a entrevista exclusiva concedida ao site Eu Falei Piratini, na quarta-feira, 10 janeiro, exatos 30 dias após ela ter sepultado o seu caçula, Kerlon Silva Bueno, que teve, aos 18 anos, a vida interrompida em dezembro passado durante uma festa na Sociedade Recreio Piratiniense ( SRP).


No relato emocionado e que durou meia hora, ela externou sua revolta, saudade, indignação e, principalmente, a tristeza por, desde o fato, saber que nunca mais receberá os inúmeros gestos de amor e carinho que, recorda, eram uma característica de Kerlon.


“Se ele saísse dez vezes por dia para rua, quando retornava me abraçava, me beijava e dizia que me amava. Meu vazio é imenso e nunca será preenchido, pois o tempo, o único remédio, passa muito lentamente nessas situações”, lamenta, Adriana, que acrescenta:


O pai dele, meu marido, morreu aos 36 anos. Meses depois também morreu o meu pai. Em 2019 tive câncer no seio e os tumores eram malignos, mas sobrevivi à doença. De todas essas perdas e batalhas que tenho enfrentado na minha vida,  a morte do Kerlon é, sem dúvida, a que mais me causa dor”.


Ela afirma que o filho não tinha inimigos e sim, era querido por muitas pessoas devido ao seu jeito brincalhão, carinhoso e humilde, o que, confessa, a fez questionar a Deus sobre o motivo de ter que passar por mais uma situação difícil durante sua existência.


“Sim, minha fé balançou e perguntei a Deus, por que eu, por que tudo isso comigo?  A resposta que encontrei é que sou capaz de carregar, mesmo com muita agonia e tristeza, este fardo também”.


Adriana relembrou  o quanto foi desafiador criar o filho sozinha, pois o marido partiu quando Kerlon tinha apenas 6 anos, assim, entende que a neta, Dandara, hoje com seis meses, cujo a existência a ajuda a aplacar o seu sofrimento, também será criada sabendo, no tempo certo, quem foi o pai.


“Até ser morto, eu falava do pai para ele. Hoje, lamento que o Kerlon não esteja aqui para, por exemplo, descobrir que nasceu o primeiro dentinho da filha, e isso dói. Mas faremos com que ele seja sempre lembrado”, garante.


Ela revela que outra situação a revolta: o fato de, apenas 15 dias após o filho ser assassinado, a gestão da SRP ter promovido uma festa, o que  indignou toda família enlutada, pois isso, na sua concepção, foi uma enorme ausência de humanidade, respeito e sensibilidade.


Sobre o crime, Adriana assegura que muitas perguntas ainda carecem de uma resposta satisfatória e que vai a busca das mesmas através de uma ou mais ações na Justiça, a quem também pretende recorrer para, não só punir o responsável ou responsáveis pelo evento no qual o filho foi esfaqueado, bem como assegurar  sustento da neta até que ela conclua os estudos.


“Vamos buscar orientação jurídica para saber contra quem moveremos os processos. Houve uma falha, já que quem matou meu filho entrou na festa com uma faca. Os envolvidos na realização do evento terão que responder por isso e, quando ficar provado quem falhou, essas pessoas terão que custear o sustento da Dandara, exatamente como o pai dela fazia.


Em relação ao criminoso, o também jovem Erick Roza, de 19 anos, questionamos qual seria a sua atitude se ficasse frente a frente com ele. Ela respondeu que nada conseguiria fazer ou falar.


Antes de responder a pergunta, entendo que parte da justiça já foi feita e isso aconteceu graças ao trabalho eficaz da Brigada Militar a quem agradeço, tanto quanto sou também grata à enfermeira presente à festa e que prestou os primeiros socorros. Sobre a indagação, se a mim fosse dada a oportunidade de estar em frente a ele, nada diria, já que nenhuma justificativa que ele pudesse a vir me dar para ter tirado de forma cruel a vida do meu filho, iria me satisfazer”


Por fim, Adriana disse que gostaria de ter como última imagem de Kerlon, o gesto de ele a abraçar na madrugada em que tudo aconteceu, quando eles saíram da casa noturna Porão Sertanejo pouco depois das 04h da madrugada, mas que na sua mente ficou registrado o  momento em que, no máximo 30 minutos depois, se deparou com o filho sem vida.


 “Saímos do Porão e ele percorreu alguns metros comigo com o braço por cima do meu ombro. O convidei para irmos pra casa, mas ele me disse: não mãe, vou para a SRP. Minutos depois fui avisada que ele tinha sido esfaqueado e estava morto”, relata ela, emendando a seguir:


“Corri para lá (SRP). Entrei, o vi no chão envolto a muito sangue e o pus nos meus braços. Disseram que ele já estava sem vida, mas, não sei explicar como, senti que deu um último suspiro no meu colo. Infelizmente é essa a última imagem do meu filho que ficou registrada na minha mente e  acho que ela nunca vai se apagar”.


Reportagem: Nael Rosa

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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